Pela popularização da fotografia de aves, há quem pense que para ser observador é necessário ter câmera fotográfica e estou aqui para dizer que isso é bom, mas não fundamental, pois a evolução tecnológica deixou tudo mais prático e acessível.
Atualmente, é possível ter diversas informações sobre a avifauna na palma da mão e os aplicativos aliados dos observadores de aves são: Merlin, BirdNet e eBird. Todos são excelentes, claro que cada um tem funções, objetivos e suas limitações também. Neste texto apresento o Merlin Bird ID e escrevo tais percepções em novembro de 2021, tenho certeza que este artigo ficará obsoleto em pouco tempo, mas já será válido por um período.
Enfim, o Merlin foi desenvolvido pelo laboratório de ornitologia da Universidade The Cornell, com sede na cidade de Ithaca, em Nova Iorque. Ele é incrível, apresenta a avifauna por regiões, com fotos, cantos, mapas de distribuição e até informações resumidas que podem auxiliar na identificação da ave. O lançamento foi em 2014 e em agosto de 2020 já estavam disponíveis mais de 7.500 espécies, sim, a meta deles é mundial!
Tenha o Merlin disponível no celular, mesmo sem sinal de internet!
Você pode baixar pelo Play Store, busque por Merlin Bird ID por Cornell Lab, clique em Instalar. A próxima página será uma solicitação de acesso a sua identificação, localização, fotos, microfone e dispositivo. Tudo isso é necessário para melhorar a capacidade de identificação da ave.
Após aceitar, clique em abrir. Você deverá informar o seu e-mail para criar uma conta e fazer parte da comunidade The Cornell, a seguir você deverá escolher um pacote (fica tranquilo que é gratuito) e aqui vai a dica de ouro, escolha o Pacote de sua região, eu escolhi Brasil: Sudeste. Você pode questionar, porque não escolher o Brasil: Todos? Vou mostrar as razões baseadas na minha experiência como professora e taxonomista:
Nosso país é mega diverso e o Merlin disponibiliza 1.655 espécies de aves cadastradas para o Brasil, já para a região sudeste são 894. Comparando os pacotes, são 761 diferentes que não ocorrem na região onde vivo. Eliminar o excesso de informação otimiza seu tempo de aprendizado com a identificação das aves;
Como diminuir dúvidas é primordial, vale mencionar que são tantas espécies parecidas, mas que vivem em localidades diferentes, por isso a maioria dos guias de identificação são organizados por região geográfica, para direcionar seus estudos e a identificação segura da ave;
Lembre-se que ao baixar o pacote, ele consumirá memória interna do seu celular, essa é outra razão para você fazer o download específico das aves que convivem contigo. Só as aves do sudeste já ocupa 1 GB, já a lista do Brasil, 2 GB;
Recomendo adquirir o pacote específico, pois você poderá acessar as informações em qualquer lugar, independente de sinal de internet!
O Merlin ajuda, mas não substitui livros
Isso porque algumas características ainda não são abordadas no aplicativo, por isso é bom ressaltar que o sudeste brasileiro é enorme, com variações altitudinais, climáticas e ecossistêmicas que refletem diretamente no estabelecimento da avifauna.
Por exemplo, há espécies de aves que ocorrem na Serra do Mar, mas não na Serra da Mantiqueira (as duas serras estão no sudeste), assim como, há passarinhos que só serão encontrados acima de 1.500 m de altitude. Tais preferências não são referenciadas no aplicativo e por mais que contemple, eu jamais abriria mão dos livros que tenho, eles são ferramentas complementares na minha caminhada como ornitóloga e com certeza, farão parte de sua jornada também.
Merlin e WikiAves podem apresentar nomenclatura científica diferente!
Quem começa a estudar passarinhos já encontra algumas dificuldades, a nomenclatura é um ponto alto e quando as pessoas deparam-se com os nomes científicos, pode rolar desistência ou acender uma paixão pela nova (porém antiga) língua, que parece mais um feitiço do Harry Potter.
Há quem imagine que nome científico é o batismo da ave e que este é imutável, desculpe acabar com suas expectativas, pois até os nomes científicos mudam. Isso acontece por existirem diversos Comitês que organizam o desenvolvimento da ciência voltada a sistemática e taxonomia e cada um possui seus critérios para aceitar a ocorrência de novas espécies ou a reestruturação de um grupo.
Este é um tema profundo que ainda será abordado aqui no blog, mas o essencial que preciso dizer para vocês nessa apresentação do Merlin, é que existe a possibilidade de encontrar nomes científicos diferentes no Merlin e no WikiAves, se isso já aconteceu contigo e você não compreendeu nada, por achar que nome científico era imutável, está aí a prova que não é bem assim.
Isso ocorre porque cada plataforma segue uma lista de espécies. No caso, o Merlin baseia-se na lista proposta pelo South American Classification Committee (SACC) que difere da plataforma WikiAves, que tem como referência o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO).
Caso você tenha sangue estatístico, já percebeu que os números absolutos são discordantes, pois a lista base do SACC reconhece 1.855 espécies de aves que ocorrem no Brasil, mas o Merlin disponibiliza 1.655. Afinal, cadê as outras 200 aves reconhecidas pelo comitê sul-americano? Essa é uma excelente questão, mas por sua complexidade, será respondida em momento oportuno.
Finalizo este texto com a seguinte conclusão: aproveite as oportunidades que a tecnologia oferece, divergências sempre existiram e existirão, dentro ou fora do ambiente acadêmico e é exatamente essa discordância que resulta em grandes descobertas científicas. Aproveite e baixe o Merlin, tenho certeza que essa ferramenta será valiosa em seu crescimento como observador ornitológico.
Ah... quase que esqueço. Preparei uma aula explicando cada função do Merlin e você pode acessar o vídeo aqui.
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